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domingo, 20 de junho de 2010

Fusão BCA/BI

O jornal A Semana anunciou, na sua edição de 18 de Junho de 2010, uma possível fusão entre o BCA (Banco Comercial do Atlântico) e o BI (Banco Interatlântico). Esta intenção de fusão expressa sobretudo a vontade do sócio maioritário dos dois bancos (a portuguesa Caixa Geral de Depósitos), que detêm 52,5% do BCA e 70% do BI. Contudo, tal intento poderá esbarrar-se nas resistências não apenas dos accionistas nacionais dos dois bancos, mas sobretudo da entidade reguladora (BCV) e das autoridades caboverdeanas.

Não é de estranhar esta pretensão da CGD. De facto, não faz sentido estratégico ter participações substanciais em dois bancos que concorrem entre si num único mercado, ainda mais com as características de Cabo Verde. Resta saber se tal fusão é vantajosa para o país, e aqui tenho muitas dúvidas. Primeiro, porque iria aumentar substancialmente a força do banco resultante, reduzindo a competitividade no mercado, não obstante o crescimento da CECV (Caixa Económica de Cabo Verde) e do BCN (Banco Caboverdeano de Negócios). Segundo, porque tal fusão teria que levar necessariamente a racionalização de recursos - leia-se encerramento de balcões e despedimentos. Terceiro, porque o sector bancário passaria a ser fortemente controlado/influenciado por um banco estrangeiro (CGD) cujo accionista principal é o Estado. Questões de soberania, portanto.

A médio prazo, se perfilam dois cenários para o futuro do BI: ou as autoridades aceitam a fusão desejada pela CGD, ou esta venderá a sua participação no BI, ficando apenas com o BCA.

No que diz respeito ao sector bancário em Cabo Verde, duas tendências irão se desenhar nos próximos anos. A primeira é a da consolidação da banca. O mercado caboverdeano é muito pequeno e não comporta um número elevado de bancos. Aqui, além da possível fusão BCA/BI, o BCN (Banco Caboverdeano de Negócios) terá de crescer de forma sustentável (a forte expansão da sua rede de agências nos últimos anos terá que se traduzir em resultados concretos), sob pena de virar motivo de caça. Não esqueçamos que o BAI (Banco Africano de Investimentos) - que neste momento se concentra sobretudo no segmento "corporate" - poderá querer avançar de forma mais agressiva para a banca de retalho, e a aquisição de um banco já com uma boa rede de balcões poderá ser o caminho mais curto. E poder de fogo (dinheiro) é o que não lhes falta. E há a anunciada chegada do BES (Banco Espírito Santo, de Portugal) que poderá ter as mesmas ambições...

A segunda tendência é a internacionalização dos bancos caboverdeanos. Se a "briga" no mercado nacional se acirrar, não restará outra alternativa para os bancos de cá senão internacionalizarem-se. Quer em direcção aos países de forte presença da nossa diáspora, quer em direcção ao vibrante mercado do continente africano. Mas aqui a concorrência não é pêra doce... A pergunta que se coloca é: quem dará o primeiro passo?

1 comentário:

  1. interesante a tua análise. partilho dos pontos que colocas e acho arriscado para o país permitir a concentração do sector num único investidor. mas tb a concorrencia no sector bancário é morna e parece que todos estão satisfeitos com a fasquia que têm e à exceção do BAI parece que todos seguem o lider ;)

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